segunda-feira, 16 de março de 2009

Quase

Aquele lugar a incomodava. Era bello, sofisticado. Uma rotisserie sem igual, uma das melhores de São Paulo. Mas ainda sim, a incomodava, e incomodava porque lembrava ele.
Poderia ter ido em outro lugar, ter comido um lanche qualquer na rua. Mas já se conhece, conhece sua gastrite também, e um lanche qualquer poderia ser fatal.
Além do mais, com seus poucos meses de São Paulo não conhecia outro lugar ali onde pudesse fazer uma refeição decente.
Então entrou. Com um frio na barriga, torcendo para que não visse ninguém familiar. Aquele dia, em especial, não queria falar, nem ver ninguém.
Não sabia dizer o porque, mas todos nós temos daqueles dias em que não queremos ver ninguém, e que ninguém nos veja.
Sentou-se numa mesa a qual nunca haviam sentados juntos. Menos mal.
Logo chegou um garçom, deu-lhe o cardápio.
Ela olhou para o cardápio com medo. Medo de ler o que não queria, mas acabou lendo. Aquelas letras sonoras, com nome de um bairro que caracterizavam um strogonoff com gosto de mostarda, mas que era muito bom. E ali estava ele : Frei Caneca.
"Não quero!" ela pensou. Tornou a olhar o cardápio e pediu um fillet de frango ao molho branco.
Olhava a sua volta. Como sua vida havia mudado.
Sentiu saudades da mãe, e de ligar só pra ouvir a voz dela. Conteve-se.
Não era fácil sobreviver naquela mar de prédios e de gente. Às vezes parecia que São Paulo iria engoli-la!
Mas nada podia fazer. Mesmo com aquele caldeirão de sentimentos sabia que estava no lugar certo.
O prato chegou. Ficou olhando para a cara dele. Comeu, tinha fome.
Não queria ficar mais nenhum minuto lá.
Levantou mais que depressa, pegou um yogurt para mais tarde, pagou a conta e foi.
Mais adiante antes de atrevessar a rua, algo tirou sua atenção. Era ele entrando no mesmo lugar.
Perturbou-se.
E antes que ele direcionasse o olhar para a calçada dela, atravessou.

Um comentário:

Unknown disse...

que joiaa!!
=)
textos lindos!
beijos gabi