quarta-feira, 29 de abril de 2009

Deixa o Destino falar mais alto...

Ela não saberia dizer quanto tempo faz, ou quando foi exatamente. Sabe que, de alguma forma fora intuida a entrar naquele lugar escuro, mas cheio de idéias maravilhosas estampadas na parede e a que mais lhe chamou a atenção foi aquela que dizia sobre seus pés e o mundo. E vendo um pouco de tinta no chão, molhou as mãos, carimbou-as ali, ao lado do verso que havia gostado, como quem diz " passei por aqui."
Não esperava que ele reconhecesse suas digitais, uma vez que nem seus olhos conhecia.
Mas ele as reconheceu, e seguiu os rastros de tinta que pingaram da mão dela, no dia que deixara sua marca ali, nas paredes dele. A tinta já estava seca, mas ele seguiu e a encontrou.
E reconheceram-se.
Da onde? Não sabem. Mas sabem que já são quase familiares, e que tem total liberdade pra dizerem o que pensam, um para o outro. O importante é sinceridade.
Não bastava terem se reconhecido. Foram além, se identificaram.
Eu diria que são semelhantes, quase identicos, em alguns aspectos. Mas tem lá suas diferenças.
São como goiabada e queijo.
Ela, goiabada. Toda cheia de frescura, vermelhinha, docinha, grudenta. Ele, queijo. Belo, vistoso, saboroso, mas sem frescuras, sim?
E juntos, formam um sabor antigo mas que até hoje é muito apreciado e o carro chefe das sobremesas caseiras.
Ela é o sonho e levita a todo instante. Seus pés passam longe do chão.
Ele é a realidade e tem os pés no chão.
Mas por outro lado, diria que são complementares.
Porque ela precisa colocar os pés no chão, e ele pode ensiná-la. E ele, pode levitar de vez em quando, e tenho certeza que ela o ensinaria.
São parecidos, de fato. E há entre eles um magnetismo que eu nunca vi igual.
Como se ela tivesse pendurado no pescoço um amuleto de ferro, e ele um imã colado ao seu peito. Atrair-se-iam mesmo se não quisessem.
Encontram-se a noite, sem que ninguém veja ou perceba. Quando chega alguém, tratam logo de acordar, mas sempre se recordam, estiveram juntos.
É engraçado que o que me parece é que, amorosamente falando, ambos sempre estiveram "por cima" das situações. São meio mal acostumados. Mas e agora? (risos)
A pouco tempo um nem imaginava que o outro existia, agora, ele está constantemente nos pensamentos dela.
Aos poucos estão descobrindo suas familiaridades e diferenças, mas acredito que até que ela saiba toda a verdade quen há nos olhos dele, tem muito pra aprender um com o outro.
De alguma forma, tinham que se encontrar.
A Vida, maravilhosamente, se encarregou de encher o jardim de flores para esse encontro, agora é só deixar o Destino falar mais alto.

domingo, 26 de abril de 2009

Helena, eu e a fada azul.

E não me canso de olhar aqueles pequeninos olhinhos verdes, no auge dos seus quatro anos, me observando, sempre a procura de uma pergunta.
- Mamãe, por que você me olha tanto?
- Porque você é linda, filha.
- Mas você não cansa, não?
- Não, filha. Eu passaria a minha vida toda olhando pra você!
- O seu olho é igual ao meu, né?
- É sim, filha. Você gosta dos seus olhos?
- Gosto. - ela olha a sua volta, e arregala seus belos olhos cheios de doçura. - Mamãe, você não sabe o que eu vi hoje!
- O que você viu?
- Uma fada!
- Uma fada, filha?
- É mamãe! Na janela do meu quarto.
- Como ela era?
- Era azul e brilhante!
- Ela te falou alguma coisa?
- Falou, mas eu não entendi direito.
- Por que?
- Porque ela falou muito baixinho. Acho que é porque ela era pequenininha.
- Mas quem sabe ela não volta?
- É né, mamãe.
- Mas eu acho melhor a gente dormir, daí na hora que a gente acordar, talvez ela esteja aqui.
- É verdade, mamãe. Vamos, vamos, feche os olhos. Vamos dormir.
Alguns instantes depois.
- Mamãe.
- Oi, filha.
- Você não vai fechar os olhos não?
- Vou...
- Já sei, você tava me olhando de novo né?
- É filha...
- Mamãe, eu amo você.
- Eu também te amo muito, filha. Agora vamos fechar os olhos, dormir, e esperar a fadinha chegar...
- Tá bom.
- Boa noite, filha.
- Mas ainda é de tarde mamãe.
- Boa tarde, então, filha.
- Boa tarde, mamãe.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Lá do âmago...

Eu quero acordar com você do meu lado, e ver que a única verdade que há na vida é o amor.
Quero olhar nos seus olhos e ver que eu sou a única que habita seus pensamentos e seu coração.
Quero que você abra a porta do carro pra mim, que abra a porta da sua vida para que eu entre de vez nela.
Quero que você segure a minha mão, quando eu tiver vontade de soltar a sua.
Quero que você me ligue quando eu não tiver vontade de te ligar.
E que você me faça voltar se eu quiser ir embora.
Quero que saiba me amar, porque eu sei que eu não sou fácil de lidar.
Quero que você toque a campainha de novo, toda vez que eu bater a porta na sua cara.
Quero que você enxugue minhas lágrimas todas as vezes que eu chorar.
E que você acredite em mim quando todo mundo duvidar do que sou capaz.
Quero que você sorria pra mim toda vez que eu fechar a cara pra você.
Quero que você saiba a hora certa de por a música certa.
Quero que você lembre nossas datas, mesmo se por ventura eu vier a esquecê-las.
Quero que você me escute quando mundo de fizer de surdo.
Quero que você repare quando eu cortar o cabelo, fizer as unhas, sejam das mãos ou dos pés.
Quero que você diga que eu sou a melhor bailarina que há, mesmo sabendo que isso não é verdade.
Quero que você reconheça tudo que eu vier a fazer por você.
Que você nunca me deixa na mão.
Quero que você saiba que eu gosto de dormir com a TV ligada.
Quero que você saiba quais são as nossas músicas e o quanto elas significam pra nós.
Quero que você me esquente quando estiver frio quando eu estiver fria.
E que você diga que eu sou linda, que você me ama e que faria tudo por mim. Porque se você não sabe, fique sabendo: eu funciono muito pelo que eu escuto.
Quero que você saiba que eu sou ciumenta e não provoque nada que me cause esse sentimento tão ruim.
Quero que você seja meu ar, quando eu não puder respirar.
Quero que você seja meus olhos, quando eu não puder ver.
Quero que você seja minha luz, quando houver escuridão.
E quero que você saiba que eu vou te amar sempre, mesmo sendo chata, exigente, ciumenta, indecisa.
Quero acreditar em tudo que você, seus olhos e sua boca me dizem.
Mais eu quero acima de tudo que me ame incondicionalmente.
Porque pra mim, isso é o que mais importa.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Clara e Ulisses

- Às vezes eu não entendo você!
- Por que você diz isso?
- Porque você tem uma capacidade de perdoar, de dar a volta por cima, de superar as dificuldades com a sua meiguice. Não sei, tudo parece fácil pra você. Mesmo que eu saiba que você sofra, não sei, parece que tem algo que te dá forças e alivia sua dor.
- É... eu sei.
- Olhe agora por exemplo, depois de tudo que eu te disse, tudo que eu te fiz, você pode até se chatear, pode até chorar, mas você vai embora com a sua santa serenidade, que eu não sei da onde você tira, e amanhã você vai conseguir trabalhar bem! Eu não!
- É como você disse, tem algo que me dá forças e alivia a minha dor.
- O que é isso? Como você consegue levar a vida, a sua vida, pra ser mais específico, assim? Com esse sorriso cheio de mel e de amor, com esse coração cheio de serenidade?
- Por que você diz a minha vida?
- Por que você só sofreu, só foi traída, todos os seus namorados, todos os caras que passaram pelo seu caminho foram uns imbecis, incluindo eu. Porque as pessoas abusam da sua bondade, Clara! Como você consegue viver sabendo que você é alvo fácil pra maldade alheia, por ser tão bondosa? Você não tem medo de sair de casa? Eu não entendo como você consegue!
- Quer saber como eu consigo? Em primeiro lugar, Ulisses, eu não me faço de vítima da situação! Assim como você se faz de vítima da sua vida! Tudo vai contra você, não é mesmo? Todo mundo é ruim e só quer o seu dinheiro! Você é um pobre cordeiro no meio de uma alcateia! Em segundo lugar, eu não faço tempestade em copo d'água, as situações pra mim tem níveis de gravidade, vamos dizer! Mas pra você, tudo que acontece na sua vidinha é uma tragédia! Mas que tragédia você sobreviveu pra contar história? Hein? Agora é claro que você me vê dessa forma, você para e olha pra sua vida, onde não acontece nada, e você faz um puta dum alarde, quando você olha pra minha vida, onde acontece uma coisinha de nada, você já acha que é o dilúvio! E quando eu saio do meio das águas, que só você enxerga, você me vê como uma santa, uma resignada, uma cristã maravilhosa, uma criatura divina que passa por seus problemas como um anjo passa por uma nuvem cinzenta! Acontece Ulisses que nem tudo é como você vê, como mamãe te ensinou! As pessoas tem pontos de vista diferentes! E olhe bem e analise o que é um problema de verdade, e o que é uma pequena chateação.
Quer saber, Ulisses? Eu agradeço a criação que sua mamãe te deu, e agradeço o chifre que você colocou na minha cabeça, assim eu vejo que nós não temos, realmente, nada de semelhante um com o outro!
Passar muito bem!



E pela primeira vez, Ulisses percebeu que Clara não era tão serena assim...

terça-feira, 21 de abril de 2009

A deusa Liz e o Mel do Sol


É de seda, não se nega. Veja só que cousa mais bela.
E do mel ela surge, e nós, como abelhas, nós a queremos. Nós rondamos e zumbidos em volta de sua beleza, sua graciosidade.
Liz, ela surge assim, divinamente.
Em tempos de amargura, de bocas marrentas, ela chega trazendo suas flores, seu mel, mel do sol, que escorre da paixão, das mãos de todos nós.
Ela é generosa, ela vem pra adoçar as minhas amarguras e trazer cor aos dias cinzas que insistem em fazer definhar o que tenho de mais belo.
Vem Liz, Deusa do Mel do Sol, traz para todos nós a brandura que habita em seus olhos, a meiguice que escorre de teus lábios quando falas.
E a madrepérola em suas cores vãs, no vitral insone das manhãs, você viu passar?
E ali, havia um menino esperando, e foi a cena mais linda que já vi, a Deusa alimentando o menino com o Mel do Sol, que escorria das suas mãos.
E nós, pobres poetas, inspirados por sua beleza e sua meiguice, nós nos prostramos de joelhos no chão e choramos por um pouco de sua doçura, de seu mel.
E ela fez chover do Sol, cachoeiras e cachoeiras de mel, e agora todos nós, ainda que pobres poetas temos nossas palavras banhadas ensopadas pelo mel, mel divino de Liz, Mel do Sol, que fará delas as mais belas e mais doces palavras escritas na face de todas as terras....


quarta-feira, 15 de abril de 2009

A Mistura Gabriela

-Eu sou assim, um caldeirão, uma miscigenação. Uma mistureba de gente diferente, de culturas, sabores e temperos. Assim como todo bom brasileiro!
-Pera aí, você não é Galega não, menina?
-Calma ai doutor, deixa eu te contar da onde eu vim...
Não vim do Norte, como Gabriela do Amado, e não tenho cheiro de cravo e muito menos cor de canela.
Posso dizer que eu tenho um pézinho na oca, se é que você me entende.
Isso mesmo. Sou descendente de índio, mas não me pergunte que tribo. Não sei se é tapajó, não sei mesmo. Sei que minha tataravó paterna era índia mesmo, pele vermelha, cabelo comprido, preto e liso.
Eis que surge a explicação para meu sangue quente, e um pouco da minha geniosidade: gosto muito de paella, na verdade, tem um pouco, ou um muito de sangue espanhol fundido nesse sangue misturado, que corre nas minhas veias.
Vai ver que é por isso que gosto tanto de Flamenco e Luis Miguel. E por isso que falo alto e sou quase explosiva. Mi sangre Rojo! Literalmente.
Mas como poderia explicar os cabelos louros e os olhos verdes, o sobrenome de Vodka, como muitos dizem?
Vieram da Polônia, fugidos. Vó Helena e sua família. Minha tataravó materna. Fugidos da invasão nazista.
Vó Helena era uma mulher de fibra. Ela e os seus esconderam-se dentro de um túmulo, com um pouco de sal para enganar a fome, durante sete dias.
O pouco dinheiro com qual conseguiram fugir, Vô José teve um surto e jogou tuuuuuudo no mar!
Daí vem o Sikorski, os cabelos, os olhos, e outras cositas mas.
- Tá faltando alguma coisa nesse caldeirão, tá não?
Por que você é meio desastrada menina? E gosta tanto de um vinho do porto?
Ora pois, da onde você acha que vem o Cerqueira Cesar? De Roma? Hahahaha!
Um pé no bacalhau, no pão, no vinho. A Vó Ceição veio lá da Ilha da Madeira, ainda menina, com sete anos apenas. Divagando entre mar e céu como seria a vida no Brasil.
-Mas e o lado árabe? Como assim você não tem um pézinho no camelo?
Isso é coisa de outras vidas, doutor.
- Muito bem, menina. Se eu quiser fazer uma Gabriela então só preciso misturar num caldeirão uma índia, uma portuguesa, uma polonesa, uma espanhola, uma árabe, um pouco de pimenta, coentro, flores, sorrisos, palavras,simpatia, coragem, fé, música, romantismo, dança, amor, muito amor, literatura, história, muito sentimentos e terei uma Gabriela novinha em folha, sim?!
Sim! Mas tão faltando algumas coisinhas aí...(risos)
- Muito bem! Obrigado! Tentarei a sua receita!
Boa sorte!






terça-feira, 14 de abril de 2009

Tristeza Clandestina

Eu não estou de TPM, e não estava nos meus planos que essas lágrimas viessem à tona esses dias.
Tenho me sentido da pior maneira possível, com aquela auto-piedade infernizante, como se fosse uma pré-adolescente imbecil em sua fase emo!
A vontade é que eu tenho agora é de sentar e chorar. Mas como há sempre uma boa notícia dentro de nós, existe uma parcela dos meus átomos que insiste em gritar : REAJA!
Não programei essa tristeza para essa semana, não havia nada, aparentemente, que pudesse me deixar com esse sentimento. É uma Tristeza Clandestina.
Entrou pelo deserto e eu nem percebi. Se instalou aqui e se aproveitou de todas as pequeninas coisas que me chateiam pra fazer uma tempestade num copo d'água.
Eu me sinto sozinha. Como não me sentia a muito tempo.
Eu me sinto invasora. Como se essas paredes não vissem mais graça em mim.
Eu sinto vontade de dizer a eles: Por favor, sejam gentis comigo, ano que vem eu sentirei muita saudades de vocês! Vamos aproveitar os momentos em família!
Mas que adianta falar? Fazia tanto tempo que não me sentia incompreendida assim.
Minha mãe pede: seja mais evoluida, seja mais adulta que seu irmão, tenha paciência com ele, seja mais elevada que ele...
Mas às vezes a gente não quer ser nada, a gente quer só ser pequeno, pra voltar a caber no colo de mãe. A gente só quer um colo, só isso.
Mas é tão difícil pedir colo quando a gente cresce...
Eu só queria acordar hoje e ver que esse inferno astral passou, olhar e ver um mar de prédios, sorrir lembrando que hoje é sexta-feira e eu vou voltar pra casa ver minha mãe e minha família.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Deixe que Renato fale por mim....


Mas é claro que o sol vai voltar amanhã
Mais uma vez eu sei
Escuridão já vi pior de endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem.


Tem gente que está do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Tem gente enganando a gente
Veja a nossa vida como está
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança!

Mas é claro que o sol vai voltar amanhã
Mais uma vez eu sei
Escuridão já vi pior de endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem.

Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena
Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos nunca vão dar certo
Ou que você nunca vai ser alguém
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança!
Quem acredita sempre alcança!
Quem acredita sempre alcança!
Quem acredita sempre alcança!
Quem acredita sempre alcança!
Quem acredita sempre alcança!
Quem acredita sempre alcança!
Quem acredita sempre alcança!

Só um desabafo

Sabe quando duvidam de você? Sabe quando não acreditam na sua capacidade de vencer na vida, ou acham que você vai passar o resto na sua vida estagnado e acomodado com a situação.
Sabe quando não enxergam o que você faz?
É assim que me sinto, às vezes. Eu vou lhes confessar que não gosto muito de ficar reclamando, vomitando minhas lamúrias assim, como interlecutora de mim mesma. Quando quero fazer isso, crio personagens. Eles são os "agentes catalizadores" das dores.
Mas a questão é que como ser humano, um dia a gente precisa desabafar de verdade, antes que nossas células queiram fazer sucessivas mitoses e nos causar um tumor.
É assim que me sinto. Não sempre. Mas hoje, por exemplo, vi o meu irmão de onze anos maldizendo o meu futuro.
Doeu tanto que tive vontade de gritar alto e sair correndo. Mas ele é um moleque e da vida sabe tão pouco.
Eu ando por esses corredores e sinto que essas paredes não me completam. Mas quando digo que quero alçar voo, eu percebo que as pessoas só concordam comigo pra não me ferir, porque na verdade elas me subestimam da pior maneira possivel.
Isso é comum na vida das pessoas, no trabalho, na escola. Mas e quando isso acontece em nossas casas, em nossas famílias?
Eu ouço as pessoas dizerem que família é tudo. É quem sempre vai te apoiar nas horas difíceis e te dar força quando você precisar.
Tem algo errado...
Eu vejo nos olhos deles, eles não acreditam em mim. E eles mentem pra me fazer feliz.
Mas isso é o que dói mais, o que mais machuca. Se eles não acreditarem em mim, se eu não puder contar com eles, o que será de então?
Quem vai estar ao meu lado?
Eu rezo para que Deus me dê forças para sair desse lugar e mostrar pra todos eles que eu consegui, e peço para que Deus me faça companhia nesses momentos em que a solidão me assola.
Eu acho mesmo que nessas horas somos nós e Deus, e que não podemos esperar muito das pessoas. Se você quer a coisa bem feita, tem que fazê-la pessoalmente.
Não vou deixar o desânimo tomar conta de mim. Se eles não me apoiam, ou finge que sim, não importa. Eu sei que tem gente que acredita em mim, e quando chegar lá, vão sorrir pra mim e dizer " Eu sabia que você conseguiria". E mais que niguém eu acredito em mim, eu sei que um dia eles vão reconhecer que estavam me subestimando e que não deveriam ter feito isso.
Mas enquanto esse dia não chega vamos continuar com o teatro: eles fingem que acreditam em mim, e eu finjo que acredito que eles acreditam em mim.

domingo, 12 de abril de 2009

Confissões de um Corsário

Eu lhe peço espaço, e peço para que escute esse pobre corsário, que de amor entende tão pouco. Mas nas desventuras desse mar sem fim, aprendeu que não há escuridão pior do aquela que nos deixa sem a luz dos olhos da amada.
Eu mergulhei num abismo de rum, buscando esquecer esses teus olhos tão verdes quanto os campos de gramíneas. Eu busquei o teu perfume em outras mulheres, busquei o sabor do teu beijo em outros lábios. E para que ficassem tão doces quanto os seus, eu pedi a garota do porto que bebesse um litro de mel.
Mas eu estava enganado. Eu vivi enganado.
Eu nunca poderia esquecer seus olhos, ou encontrar um beijo tão doce quanto o seu.
Eu conquistei mares, cidades, navios imperiais, mas não há nada mais dificil do que conquistar o coração de uma princesa. O seu, para ser mais preciso.
É tão fácil fazer dez mulheres sentirem prazer em uma noite, mas é tão difícil fazer com que uma, apenas uma, se sinta amada por completo, durante dez dias.
É tão dificil fazê-lo, e torna-se mais árduo ainda quando se está distante.
Como poderei lhe dizer, minha princesa, que eu a amo, que vivo por ti?! Que aventura nenhuma me dá mais alegria do que te observar de longe, ainda que seja tu em tua torre, e eu em meu navio?
Como posso fazê-la acreditar nesse amor, sendo que você não pode ver a verdade que há em meus olhos? E se visse, será que você acreditaria neles?
Eu não acreditava em Deus, até perceber que não existe uma explicação para tanto amor! Só pode ser obra divina!
Eu não posso lhe dar um castelo tão luxuoso, como esse que você habita. Pra ser bem sincero, não posso nem lhe dar uma casinha de sapê. Não posso lhe dar jóias que não sejam saqueadas de algum navio real. Não posso lhe oferecer nada de muito valor.
Só posso lhe oferecer meu coração. Um pouco vagabundo, sim. Mas um coração que encontrou um motivo para jamais deixar de bater, um motivo para que tudo seja alegria. Esse coração que vive por ti, e por ti, faria de tudo, acredite!
Esse coração que tem um nome tatuado em si: o seu nome.
E se quer saber por que eu larguei essa vida de corsário, e por que estou aqui, de joelhos, embaixo da sua torre?
Por você, e você é o único motivo que me inspira a respirar, a viver.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

A praia

A imensidão desse mar me faz pensar em viver. Eu quero viver muito tempo, muito mesmo. Mas esse tempo só terá sentido se você estiver ao meu lado.
Eu vivo com força, com paixão, com o amor de quem luta contra os próprios sentimentos de dor e saudade, com o amor que tem que submeter as açoitadas da vida e mesmo assim, cicatriza suas feridas com uma força descomunal e segue adiante.
Não vou mentir pra você que muitas vezes eu achei que tivessemos morrido na praia, ou que tivessemos nos afogado no caminho.
Mas eis que surge Iemanjá, e nos resgata. É tão bonito de ver as pérolas no pescoço dela, cobrindo o colo, e o seu manto e nos trazer de volta a vida!
Eu olhos pras minhas pegadas na areia, são apenas duas pegadas, dois pés. Mas dois pés que atravessariam o mundo por amor, pela vida. A sua, principalmente.
A barra do meu vestido branco já está ensopada e as pérolas que haviam nele, Iemanjá as recolheu para si.
A essa altura, já devem estar me procurando por toda parte, gritando por todos os cantos:
" Cadê a noiva, cadê a noiva? Por que Amira fugiu?"
Mas eles sabem, eles sabem mesmo porque fugi. Você sabe, eu não poderia levar aquele casamento adiante. E não vão me encontrar, porque sou mais esperta que eles.
E eu vou andar por essa praia até que minhas lágrimas sequem, e depois que ela secarem, eu vou ao seu encontro, meu amor, porque eu sei que você espera por mim.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Metadona

" Você parou com essa porcaria?"
" Eu não sabia que você conhecia tão bem os remédios!" ( risos)
" Não tem graça seu imbecil! Fiquei preocupada quando me ligaram no jornal falando que você estava no hospital! Da próxima vez, você vai ficar aqui sozinho..."
" Amor..."
"..."
" Amor?"
" O que?"
" Desculpa? É que a dor era muito forte!"
" A sua dor é forte né? Só a sua! Você não pensou que você poderia ter morrido? E a minha dor nessa? Como ficaria? Não ia ter Metadona pra me acalmar!"
" Desculpa?"
" Desculpo, mas esteja bem ciente que não vai ter uma próxima vez!"
" Sabia que seus olhos ficam ainda mais verdes quando você fica bravinha?!"
" Sabia..."
" Olha pra mim!"
" Estou olhando!"
" Dá um sorriso?"
" Não!"
" Ah..."
" Não..."
" Isso, tá quase!"
- sorriso-
" Nunca mais toma isso tá? Me liga, eu venho com você pro hospital..."
" Eu te amo... muito."
" Eu também te amo... muito."

Notas (tão) formais

Um piano de marfim onde seus dedos dançavam. A sala toda havia parado para ouvi-lo. Inclusive ela, Leonora.
Estava a alguns dias esperando por aquele dia. Ele era belo, mas não era só beleza.
Gentil, cordial, às vezes até demais. Um poço de elegância e bondade. O rapaz ideal, ou quase.
Era noivo. E parecia gostar dela.
Por que? Bom, isso nem a família entendia.
Leonora, em seus vinte e um anos, olhos claros como campos de gramíneas. Cabelos presos a moda, boca desenhada pelo batom carmesim.
Leonora era a filha mais velha de três irmãs, e não havia se casado ainda porque não "havia encontrado um verdadeiro amor".
E aquele rapaz de tocava piano ali na sala, aquele que tinha visto pequeno, parecia trazer sinceridade no olhar.
Depois de suas últimas notas, em grande desfecho todos o aplaudiram.
Ele aproximou-se de Leonora.
Ela sorriu.
Ele estremeceu. Leonora tinha a sensação de que ele não sabia como se portar na frente dela... Mas por que?
Puxou conversa com ela, mas sempre armado, munido. Como se tivesse medo de olhar nos olhos dela, como se alguma coisa nela pudesse prendê-lo.
Esquivava o olhar. Tornava a sorrir. Mas sempre cordial.
Por que ele era tão formal com ela?
Não tinham datas de nascimento tão distantes assim.
Derrubou um copo. O rubor tocou as bochechas dele. Parecia desajeitado perto dela.
Ela continuava a palestra, tentando fazer com que o jove pianista se desarmasse um pouco. Mas foi inútil.
Leonora desconversou. Era melhor tomar uma taça de vinho e continuar procurando o grande amor.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

A Princesa da Torre II

"Quando as penas não me bastam, quando a tinta acaba, abro a janela e contemplo as estrelas.
Elas, que sempre foram o mapa celeste dos nossos ancestrais, que guiaram Mohammed, que inspiram os poetas, que fascinam os astrônomos da corte.
Elas falam comigo, assim como falam com você.
São nosso correio.
Assim como o vento.
Ele que leva até você o meu cheiro, o meu beijo, a minha saudade.
Gostaria de ter o cabelo tão longo quanto Rapunzel. Mas a única semelhança que há entre nós é a torre.
Essa torre que me mantém aqui, e aquele dragão malvado.
Mas eu sou paciente, isso aprendi com a natureza. E todos os dias que o Sol se esconde e a Lua aparece, quando cerro meus olhos, é sempre um dia a menos.
Não é fácil sobreviver dessa maneira, várias vezes pensei em me conformar com a situação e passar o resto da vida nessa torre! Mas que raio de princesa sou eu?
Ora essa!
Mesmo com a dificuldade de viver assim, com a pressão do reino para que eu me case com o noivo escolhido, eu me resigno, não discuto. O tempo dirá a eles.
Pois existe uma força maior, uma força motriz que move todos esses elos. E ainda que eu queira fazê-la ir embora, ela sempre volta, e volta com maior intensidade!
Não posso fazer nada, posto que estou de mãos atadas diante da altura dessa torre.
Mas como eu disse, eu aprendi com a natureza a ser paciente.
Vou tocando minha vida daqui mesmo, por enquanto...
Até o dia em que a torre abrir suas portas mágicas pra mim, e o dragão tornar-se meu aliado, então eu voarei até o Continente, e o destino se encarregará do resto."

domingo, 5 de abril de 2009

Tudo aquilo que me faltava

Éramos dois. Eu e o amor.
E antes mesmo de você chegar éramos nós dois apenas.
Eu e o amor fazíamos tudo juntos. Íamos ao cinema, as livrarias, tomavamos café, sorvetes, sorvetes de café.
Nós alugávamos filmes românticos, compravamos pipoca e coca-cola.
Fazíamos o que nos dava na telha.
Volta e meia íamos fazer pic-nic no Parque do Ibirapuera, ficavamos olhando os pais ensinando seus filhos a andar. E os pequeninos dando seus primeiros passos vacilantes. Tinham aqueles pais que ensinavam seus filhos a andar de bicicleta, e aqueles filhos ensinando seus pais a amar e a viver.
Eu e o amor fazíamos coisas muito divertidas, mas sempre faltava algo.
Várias vezes eu me sentia distante do amor, e ele me perguntava:
" O que está havendo com você? Por que você está distante?"
Eu não sabia o que responder. Mas eu sabia que faltava algo.
Eu e o amor, por nós mesmos, não era algo que eu chamaria de completo.
Várias vezes eu quis ter um porta-retrato com a foto de uma mulher que eu amasse na minha sala, mas as que eu encontrei por aí não mereciam aquele porta-retrato.
Foi então que você chegou. Você chegou e preencheu todos os porta-retratos que eu poderia ter na minha sala. Você preencheu todo o vazio que havia em mim.
Você completou a minha vida, e minha e a do amor também.
Agora somos nós três.
Eu, você e o amor.
E agora, eu sei... Era você que estava faltando pra tudo ficar tão lindo, mágico e colorido!
Eu e o amor vivemos em constante alegria, só de saber que você existe!
Agora, a pipoca do cinema tem mais sabor, o café é mais encorpado, e até assistir Sessão da Tarde com você é divertido!
Quando vamos ao Parque do Ibirapuera eu olho aquelas crianças e penso, quando seremos nós quatro?
Mas vamos vivendo nós três...
E quando Deus quiser seremos, nós quatro, nós cinco, nós seis!
Ah...
Porque agora que você está aqui, tudo faz sentido...
E agora eu sei que era mesmo tudo aquilo que me faltava...

sexta-feira, 3 de abril de 2009

De volta a estaca zero

Olhava ao seu redor e percebia que nada havia mudado.
Pra falar bem a verdade, sempre fora meio acomodado com a vida. por dois anos conseguiu lutar um pouco pelo que queria, mas sabe como é, uma vez acomodado...
Ele, que havia largado tudo para ir em busca do que dizia ser sua vocação.
Largou a menina que o amava, que morreria por ele naquela época. Largou família, esqueceu-se dos amigos...Tudo...
Se ele soubesse que a vida o faria voltar no seu ponto de partida, será que ele teria feito a mesma coisa?
Pra falar bem a verdade, eu acho que sim.
Porque ele nunca soube amar. Nunca soube dar valor a pessoa ou cousa alguma. Nem mãe, nem pai, irmãos, namoradas, nada!
Nada importava pra ele.
Eu sei do que estou falando.
Posso contar numa mão as vezes que ele chorou de verdade. Ou às vezes que demonstrou um sentimento bonito. Tão diferente de sua mãe.
É tão estranho pensar como alguém pode ter uma pedra no lugar do coração.
Ele pode até se apaixonar, mas acho que nunca vai amar alguém. Ele só sabe ver as pessoas como matéria, e uma pessoa assim não tem capacidade de mergulhar e sentir um amor espiritual.
Tenho pena dele.
Sempre tive, e em alguma lugar, em algum tempo, eu achava que minha missão seria salvá-lo.
Mas eu não sou, e se eu tiver que salvar alguém não vai ser aquele protótipo de ser humano, que parece mais um robô, sem alma nem coração.
Hoje, voltou para o seu ponto de partida, e eu vejo que se ele realmente fosse um guerreiro, iria em busca de seus sonhos, custe o que custasse! Porque quando a gente quer muito uma coisa, a gente consegue! Principalmente quando se trata do nosso futuro!
Espero mesmo que Deus se apiede dessa pobre criatura... Eu, cá como uma boa cristã vou rezar pra que ele encontre o caminho.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Um fio de esperança

O Sol ia alto. Já era meio dia. Um dia especialmente quente, e o grande astro castigava mais uma vez as pessoas miseráveis que viviam naquelas redondezas.
Rachaduras pelo chão. Um imenso deserto. Não havia verde ali, a não ser os olhos dela.
E a única água que ele viria até chegar a fazenda, eram as lágrimas que escorriam dos olhos dela.
A cena se repetia. Mais uma Raul iria tentar a sorte. Outro latinfúndio, outro coronel.
E Maria Dolores, ou Lola, como ele chamava carinhosamente a dona de seu coração, ficaria ali, parada na porta, ao lado de seus quatro filhos e o quinto, de seis meses, que estava na barriga ainda. Lucas, Maria Lúcia, Helena e Raulzinho. O quinto, se fosse menina, chamaria-se Rosa. E se fosse menino, Leonardo. Os pequeninos eram magrelos, só ossos. Alfabetizados graças a escolinha que frequentavam ali no sertão. Andavam dois quilometros, de barriga vazia até chegar na escolinha.
O dinheiro mal dava para se alimentarem, e Raul havia sido despedido do último emprego. Mas como era um bom vaqueiro e muito honesto, havia sido recomendado para um outro coronel.
Se a proposta fosse boa, e o coronel gostasse dos seus serviços, mudaria com a família para vila, nas proximidades da fazenda. Mas para quem vê os filhos e a mulher grávida passando fome, não para para pensar em propostas, o que vier, está de bom tamanho.
O coronel havia pedido dois meses de experiência, e Raul torcia para que Rosa ou Leonardo esperasse até o seu regresso.
Só de pensar em ficar longe dos filhos e de sua amada Lola, seu coração esfarelava-se.
Abraçou-a com todo amor que sentia.
" Só vou deixar você sozinha nesse estado, porque quando nosso bebê nascer quero dar a ele um bercinho."
Os olhos de Lola eram só lágrimas.
" Darei um jeito de mandar comida pra vocês, eu prometo. Nem que eu tenha que tirar do meu prato e caminhar até aqui todos os dias!"
Lola não respondia, conhecia o homem maravilhoso que tinha ao seu lado, o pai dedicado que era. E não adiantava pedir que não, pois se fosse preciso, ele o faria. Quantas vezes Raul não havia ido dormir sem comer nada, só para que ela pudesse comer.
Em toda sua dor pensava na vida miserável que levava, o que havia feito para aquele castigo tão cruel... Nenhuma mãe merecia mandar um filho dormir, para passar a fome. Mesmo em toda essa angústia, Lola rezava e pedia para que Deus lhe desse força. E Ele dava.
Raul abraçou os filhos, despediu-se deles com os olhos cheios de lágrimas. Aproximou-se de Lucas, o mais velho de nove anos.
" Cuide da sua mãe e de seus irmãos! Na minha ausência, você é o homem da casa! Você sabe onde guardo a espingarda e as munições, sabe como usá-la. Só se precisar muito... Use-a!"
Raul apertou o menino nos braços. Era tão novo, uma criança apenas. E já sabia atirar. Se um dia o pai faltasse, realmente, ele seria o homem da casa.
Lola enxugou as lágrimas, pegou nas mãos calejadas e sofridas de Raul e sorriu:
" Vá com Deus, meu amor. Rezaremos por você! Vai dar tudo certo, você vai ver! Minha Nossa Senhora da Rosa Mística vai proteger você! Não se preocupe, ficaremos bem. Jesus vela por nós!"
Raul beijou Lola ternamente. Abraçou-a e beijou sua barriga.
" Eu amo vocês."
Deu as costas sem olhar para trás, senão não conseguiria partir.
Lola e as crianças choravam, mas em seus olhos havia um brilho de esperança.
As quatro da tarde o ônibus que mudaria a vida daquela família passaria no ponto que Raul estaria esperando.
Acontece que ainda era uma hora da tarde.