sexta-feira, 27 de março de 2009

Na missa

"De que lhe vale toda a beleza, se no interior da bela fruta, jaz uma alma em putrefação, corroída pela vaidade, pelo egoísmo e toda as misérias que assolam a alma daquele que não consegue ver além do corpo, da matéria?"
Enquanto o padre falava, Eliza, ferida por tais palavras, esquivava seu olhar.
Haviam várias duquesinhas naquela missa. Todas bem vestidas, bem arrumadas. Pareciam que haviam saído direto de um baile da França. Iam na igreja por obrigação. Mas não todas, a maioria eu diria. Algumas iam de coração aberto.
O sermão do Padre Álvaro era claro e direto, ferindo o orgulho não só das mocinhas, mas de suas respectivas mães. A sociedade daquela época cheirava a coisa podre.
" E não adianta vocês fingirem que estas palavras não se adequam para vocês, minhas filhas, porque é para vocês que as pronuncio! Não sejam tolas! Olhem no íntimo de si mesmas? O que lhes vai no âmago? Só vocês podem responder, mas como podem responder se recusam-se a olhar? Por que recusam? Porque vocês sabem que suas almas está corroída, violentada pala vaidade, pelo ego, pelo poder, pela cobiça, pelo dinheiro! Não vos enganeis minhas filhas! O dinheiro e a vaidade são maus conselheiros."
Eliza, escutava por um ouvido e logo saia pelo outro. Não gostava daquele padreco! Ora, quem ele pensava que era?
Ela ia na missa para ver o diácomo.
" Eliza, você tem que abrir seu coração para o Sagrado, para Jesus!" dizia sua irmã mais nova, Aleda, que apesar da idade tinha uma mente muito a frente da mente de sua irmã.
Talvez fosse por isso que Eliza invejasse tanto Aleda. Não porque Aleda era mais bonita, afinal tinham belezas semelhantes, mas pelo fato de Aleda ser suave, serena, entregue a oração. Pelo fato de Aleda viver sorrindo e sempre ter palavras bonitas beirando-lhe os lábios.
Várias vezes sentiu ciúme de Aleda, porque sempre após a missa de domingo, ela ficava a prosear com o diácomo sobre Deus, Jesus e Santa Inês.
Aleda pensara em virar freira, o sacerdócio para ela soava como música. Mas o pai lhe negara tal desejo.
Eliza fervia de raiva. Duas flores numa mesma família, uma porém, cheia de espinhos e pragas, a outra, tão bela e livre de maldades que causava alegria em quem a olhava.
Eliza só não matara a irmã ainda, pois ela seria considerada Santa, e então o diácomo iria gostar ainda mais de Aleda. Quanta irônia!

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