terça-feira, 25 de agosto de 2009

Helena e Deus

Depois de tanta água finalmente podia vislumbrar um pedaço de terra. Mais que isso. Finalmente sentia seus pés em solo firme. Suspirou aliviada, estavam salvos!
Depois de tantos dias de medo, angustiada, sem saber se sobreviveria para contar sua história, ela podia suspirar aliviada.
Não como gostaria.
Agora estava numa terra de estranhos. Não entendia uma palavra sequer. Mal sabia pedir qualquer informação. Sabia apenas seu nome.
Helena.
Yankovsky Sykorsky. Que mais tarde seria apenas Sikorski.
De resto, não sabia mais nada.
Não é fácil recobrar a consciência quando se passam sete dias em um túmulo sem estar morto, escondendo-se da guerra.
E o clima de perseguição tiravam-lhe o sono. O que seria de sua pequenina Olga?
Sem saber, no seu corpo mal alimentado germinava uma vida, que mais tarde chamaria se Victor.
Mas enquanto não podia deixar a Polônia passara sete dias agonizantes no tumulo, ela sua pequenina família, o pequenino Victor em seu ventre, o morto, dono do tumulo, e um punhado de sal que lhes salvara a vida, contrariando todas as leias da fisiologia.
Quando se trata de vida, ela propria faz seus milagres.
Arrastaram-se até o navio, com muito esforço. A sua Polska ficaria para tras, com milhares de coisas que ela faria questão de não lembrar.
Pelo menos tinham as economias que conseguiram levar consigo para a viagem.
Até que seu marido, pertubado pelas dores dos dias que sucederam, num lapso de loucura atirara tudo no mar.
Agora estavam perdidos.
Sem dinheiro, sem destino.
Mas ainda sim, estavam vivos.
Helena trazia nos olhos uma amarga história. História essa que jamais contaria os pormenores para ninguém. Ninguém saberia de fato a sua real história, só mesmo aqueles que tinham capacidade de raciocinar e entender muito bem a propria história.
De resto, saberiam só um pedaço que ela diria, e todos acreditariam. Não mentiria. Apenas omitiria. E que Deus que era tão Grande e Misericordioso a perdoasse, afinal para quem salvou uma família inteira, perdoar uma omissão não seria dificil.
Deus.
Deus era a chama de Helena. Ele havia dito a ela para que sempre confiasse Nele, independente do que acontecesse, ela deveria acreditar fielmente e de coração Nele! Era a única pessoa, se é que posso dizer assim, com quem Helena abria verdadeiramente seu coração.
Era a única pessoa que entendia o que ia no âmago daqueles olhos azuis-esverdeados, daquela mulher que fizera de tudo para salvar a vida de sua família e construir, numa terra prometida, uma casa cheia de netos que amariam a Deus, teriam olhos claros e viveriam em PAZ para SEMPRE!
E lá estava ela. No porto. E a pequenina Olga a segurar-lhe a mão. Seu marido ao seu lado. O pequeno Victor no ventre. Num país chamado Brasil, onde não sabiam o que fazer, para onde ir, não sabiam o que falar, pra quem perguntar.
Tudo bem. O pior mesmo, já passara.
E não importava como fosse, Deus estaria com eles!
Helena confiava Nele!

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