terça-feira, 7 de abril de 2009

Notas (tão) formais

Um piano de marfim onde seus dedos dançavam. A sala toda havia parado para ouvi-lo. Inclusive ela, Leonora.
Estava a alguns dias esperando por aquele dia. Ele era belo, mas não era só beleza.
Gentil, cordial, às vezes até demais. Um poço de elegância e bondade. O rapaz ideal, ou quase.
Era noivo. E parecia gostar dela.
Por que? Bom, isso nem a família entendia.
Leonora, em seus vinte e um anos, olhos claros como campos de gramíneas. Cabelos presos a moda, boca desenhada pelo batom carmesim.
Leonora era a filha mais velha de três irmãs, e não havia se casado ainda porque não "havia encontrado um verdadeiro amor".
E aquele rapaz de tocava piano ali na sala, aquele que tinha visto pequeno, parecia trazer sinceridade no olhar.
Depois de suas últimas notas, em grande desfecho todos o aplaudiram.
Ele aproximou-se de Leonora.
Ela sorriu.
Ele estremeceu. Leonora tinha a sensação de que ele não sabia como se portar na frente dela... Mas por que?
Puxou conversa com ela, mas sempre armado, munido. Como se tivesse medo de olhar nos olhos dela, como se alguma coisa nela pudesse prendê-lo.
Esquivava o olhar. Tornava a sorrir. Mas sempre cordial.
Por que ele era tão formal com ela?
Não tinham datas de nascimento tão distantes assim.
Derrubou um copo. O rubor tocou as bochechas dele. Parecia desajeitado perto dela.
Ela continuava a palestra, tentando fazer com que o jove pianista se desarmasse um pouco. Mas foi inútil.
Leonora desconversou. Era melhor tomar uma taça de vinho e continuar procurando o grande amor.

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