- Às vezes eu não entendo você!
- Por que você diz isso?
- Porque você tem uma capacidade de perdoar, de dar a volta por cima, de superar as dificuldades com a sua meiguice. Não sei, tudo parece fácil pra você. Mesmo que eu saiba que você sofra, não sei, parece que tem algo que te dá forças e alivia sua dor.
- É... eu sei.
- Olhe agora por exemplo, depois de tudo que eu te disse, tudo que eu te fiz, você pode até se chatear, pode até chorar, mas você vai embora com a sua santa serenidade, que eu não sei da onde você tira, e amanhã você vai conseguir trabalhar bem! Eu não!
- É como você disse, tem algo que me dá forças e alivia a minha dor.
- O que é isso? Como você consegue levar a vida, a sua vida, pra ser mais específico, assim? Com esse sorriso cheio de mel e de amor, com esse coração cheio de serenidade?
- Por que você diz a minha vida?
- Por que você só sofreu, só foi traída, todos os seus namorados, todos os caras que passaram pelo seu caminho foram uns imbecis, incluindo eu. Porque as pessoas abusam da sua bondade, Clara! Como você consegue viver sabendo que você é alvo fácil pra maldade alheia, por ser tão bondosa? Você não tem medo de sair de casa? Eu não entendo como você consegue!
- Quer saber como eu consigo? Em primeiro lugar, Ulisses, eu não me faço de vítima da situação! Assim como você se faz de vítima da sua vida! Tudo vai contra você, não é mesmo? Todo mundo é ruim e só quer o seu dinheiro! Você é um pobre cordeiro no meio de uma alcateia! Em segundo lugar, eu não faço tempestade em copo d'água, as situações pra mim tem níveis de gravidade, vamos dizer! Mas pra você, tudo que acontece na sua vidinha é uma tragédia! Mas que tragédia você sobreviveu pra contar história? Hein? Agora é claro que você me vê dessa forma, você para e olha pra sua vida, onde não acontece nada, e você faz um puta dum alarde, quando você olha pra minha vida, onde acontece uma coisinha de nada, você já acha que é o dilúvio! E quando eu saio do meio das águas, que só você enxerga, você me vê como uma santa, uma resignada, uma cristã maravilhosa, uma criatura divina que passa por seus problemas como um anjo passa por uma nuvem cinzenta! Acontece Ulisses que nem tudo é como você vê, como mamãe te ensinou! As pessoas tem pontos de vista diferentes! E olhe bem e analise o que é um problema de verdade, e o que é uma pequena chateação.
Quer saber, Ulisses? Eu agradeço a criação que sua mamãe te deu, e agradeço o chifre que você colocou na minha cabeça, assim eu vejo que nós não temos, realmente, nada de semelhante um com o outro!
Passar muito bem!
E pela primeira vez, Ulisses percebeu que Clara não era tão serena assim...
quarta-feira, 22 de abril de 2009
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2 comentários:
Sinceramente minha mais nova e querida amiga?
A Clara e Ulisses são a mesma pessoa.
Na verdade você só olhava pro espelho e via como o seu lado infantil e romantico, assim com o seu lado inteligivel e cético podem conviver tão bem e ao mesmo tempo coliderem tanto.
No fim você entende que paixão é coisa de menininha carente.
Eis a hora que voce começa a descobrir o que é o amor de verdade.
Simplesmente linda!
Corre-se o risco de não ver uma bela paisagem, por culpar a feiúra da janela...
Ver amor por estágios...primeiro paixão, depois amor...e quem sabe no fim amizade, esvazia o signifado do amor.
Hábito do ser humano de ser dualista, herança de Descartes... não podemos ser medidos por uma régua; o amor a meu ver não é fermento existencial, é monismo e é divino,caso contrário vamos sempre chamar amor de "verdadeiro" ou de "falso"...amor quem na raiz do seu significado jamais é falso,sempre verdadeiro...e se tem o som de "falso"...estamos refletindo de coisas diferentes!
Bjão pra vc Gá!
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