-Pera aí, você não é Galega não, menina?
-Calma ai doutor, deixa eu te contar da onde eu vim...
Não vim do Norte, como Gabriela do Amado, e não tenho cheiro de cravo e muito menos cor de canela.
Posso dizer que eu tenho um pézinho na oca, se é que você me entende.
Isso mesmo. Sou descendente de índio, mas não me pergunte que tribo. Não sei se é tapajó, não sei mesmo. Sei que minha tataravó paterna era índia mesmo, pele vermelha, cabelo comprido, preto e liso.
Eis que surge a explicação para meu sangue quente, e um pouco da minha geniosidade: gosto muito de paella, na verdade, tem um pouco, ou um muito de sangue espanhol fundido nesse sangue misturado, que corre nas minhas veias.
Vai ver que é por isso que gosto tanto de Flamenco e Luis Miguel. E por isso que falo alto e sou quase explosiva. Mi sangre Rojo! Literalmente.
Mas como poderia explicar os cabelos louros e os olhos verdes, o sobrenome de Vodka, como muitos dizem?
Vieram da Polônia, fugidos. Vó Helena e sua família. Minha tataravó materna. Fugidos da invasão nazista.
Vó Helena era uma mulher de fibra. Ela e os seus esconderam-se dentro de um túmulo, com um pouco de sal para enganar a fome, durante sete dias.
O pouco dinheiro com qual conseguiram fugir, Vô José teve um surto e jogou tuuuuuudo no mar!
Daí vem o Sikorski, os cabelos, os olhos, e outras cositas mas.
- Tá faltando alguma coisa nesse caldeirão, tá não?
Por que você é meio desastrada menina? E gosta tanto de um vinho do porto?
Ora pois, da onde você acha que vem o Cerqueira Cesar? De Roma? Hahahaha!
Um pé no bacalhau, no pão, no vinho. A Vó Ceição veio lá da Ilha da Madeira, ainda menina, com sete anos apenas. Divagando entre mar e céu como seria a vida no Brasil.
-Mas e o lado árabe? Como assim você não tem um pézinho no camelo?
Isso é coisa de outras vidas, doutor.
- Muito bem, menina. Se eu quiser fazer uma Gabriela então só preciso misturar num caldeirão uma índia, uma portuguesa, uma polonesa, uma espanhola, uma árabe, um pouco de pimenta, coentro, flores, sorrisos, palavras,simpatia, coragem, fé, música, romantismo, dança, amor, muito amor, literatura, história, muito sentimentos e terei uma Gabriela novinha em folha, sim?!
Sim! Mas tão faltando algumas coisinhas aí...(risos)
- Muito bem! Obrigado! Tentarei a sua receita!
Boa sorte!
3 comentários:
Muitas misturas...esse caldo genético...inúmeras idéias...muitos tons...é assim mesmo que se é!
esplêndido não acha?
lindo!
bjs
hahha Gostei do seu texto!
mais achava que Cesar ou vinha de Roma,(...) ou era daqui do Brasil mesmo hehehe
beijos!
ah, essa mistura. brasileiríssima! e eu que fico aqui, na minha frustração de não ser mistura de nada. japonês com japonês... pelo menos meu coração é brasileiro, nascido paranaense e crescido paulista. atualmente paulistano. muito legal o texto, sobre as misturas e características. esse jeito descontraído já dá pano pra manga, menina. textos de humor são muito bem quistos.
beijos
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