segunda-feira, 10 de novembro de 2008

De volta...

O porto estava cheio. Era dia de descarregar as mercadorias vindas do Oriente. Homens grosseiros e malcheirosos assoviavam e voltavam seus olhares para ela. Ela não se importava.
De longe observava o navio de carga, o das cinco e meia como havia lhe dito Orfeu.
A medida que o navio de aproximava suas mãos tornavam-se cada vez mais gélidas e trêmulas, seus olhos verdes tão claros pareciam uma imensa planície de gramíneas alaga por uma torrente chuva. Aquele navio era sua última esperança.
As cachos de cabelos louro-acinzentado desvaziam-se no vento forte, e ela sentia que não aguentaria mais um dia de vida se não tivesse noticias dele.
Foram cinco longos anos, os mais longos possiveis. Incansáveis, deprimentes.
Seu coração ia descompassado. O navio ancorou. Ela quis se aproximar, mas permaneceu imovel. Seu olhar angustiado o procurava, " Por favor Meu Deus, não faça isso comigo!", ela pensava em meio toda aquela agonia que parecia infindável.
Então, ela vê saindo do barco, um homem alto, sujo, muito magro, carregando uma trouxa, cabisbaixo, com um andar muito lento e manco.
Foi quando ele ergueu seu olhar e sorriu. Aquele sorriso! Ah, aquele sorriso era inconfundível, aquele olhar expressivo...
Ela quase não se aguentava de felicidade. Ele parou de andar, respirou fundo, mal podia acreditar no que seus olhos viam.
" Ilena!!!" disse abrindo os braços.
Ela correu em direção ao abraço dele.
" Meu amado, meu amor, Gabriel você está vivo! Santo Deus, obrigada Meu Pai!!!"
Lágrimas de felicidade rolavam pela face de ambos. Abraçaram-se com tanta força que pareciam que nunca mais iriam sair daquele abraço.
Ela olhou ternamente em seus olhos.
" Meu Amor, quase não o reconheci, Oh Deus, o que fizeram com você! Você está tão magro, está ferido, sua perna, o que..."
" Ilena, meu amor, estou vivo! Estou aqui! Nada importa! Estou aqui com você! Nem posso acreditar, tinha perdido minhas esperanças naquele lugar horrendo, mas cada vez que me lembrava de seus olhos, de seu rosto, eu sentia um sopro de vida em meu peito! Ah Ilena, tanto eu chorei pensando que nunca mais iriamos nos ver! Mas Deus é bondoso, olhe! Estamos aqui! Eu te amo Ilena, e nunca mais vamos nos separar, nada vai nos separar meu amor, nem a guerra nem nada!"
Ilena não conseguia pronunciar nenhuma palavra, era só felicidade e amor.
Respirando fundo, limpando as lágrimas ela sorriu.
" Vladmir jurou que iria te ajudar, como ele conseguiu?"
" Meu Amor, foi muito dificil, fui colocado dentro de uma enorme caixa cheia de batatas, aliás, devo estar fedendo! Mas no meio da viagem os marujos me ajudaram, foram muito bons comigo! Graças a eles não morri de febre!"
Ilena tinha os olhos angustiados de pensar em tudo que Gabriel havia passado naquele campo de batalha. Ela quis chorar mas ele abraçou-a.
" Vamos Meu Amor, Minha Linda, não fique assim, passou. Agora vamos pra aldeia, onde é nosso lugar!"
" Não há mais trem agora meu amor, eu consegui um quarto pra nós numa pensão, mas tive que dizer que somos casados!" Ela sorriu.
" E em breve seremos oficialmente! Ilena, eu não sei viver sem você!"
" Nem eu sem você, Minha Vida! Agora vamos, você precisa descansar e tomar um banho!" ela riu.
" Uma banho, era a segunda coisa que eu mis desejava depois de você!"
Eles riram.
Finalmente a felicidade voltara a reinar nos corações de Ilena e Gabriel. Depois de muita tormenta, guerra, medo, saudades, ausência, Deus os unira mais uma vez, e dessa vez era pra sempre!

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