terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Se for beber, não dirija!

A claridade desse quarto ofusca um pouco a minha visão. Pra quem estava em sono profundo, ser ver a luz do dia a seis meses, qualquer lanterna incomodaria.
Seis meses.
Seis meses de dor, de agonia, de tristeza. Seis meses de luta, de cansaço. Seis meses sem dormir, sem comer direito. Seis meses sem viver direito.
Foi o que eu fiz com a minha família e com Ágata, minha noiva.
Eu e minha irresponsabilidade.
Para mim, que estive em coma é dificil pensar que passei seis meses dormindo. Não parece que fiquei aqui tanto tempo. A lembrança mais recente que eu tenho são as cenas do acidente e de como isso mudou minha vida.
A gente não reconhece o valor que a vida tem até estar prestes de perdê-la, e mesmo assim, parece não significar muita coisa. Mas quando a gente vê a pessoa que a gente mais ama a beira da morte, a gente percebe que a vida é muito frágil e que um namorado babaca pode arruinar a vida de uma família toda.
É assim que me considero, um namorado babaca.
Eu e Ágata estavamos noivos a dois anos. Casamento marcado e tudo. Numa quarta feira do mês de agosto fomos convidados pra um aniversário de um amigo, numa cidade vizinha.
Lá fomos nós. Nos divertimos muito, mas eu bebi além da conta. Ágata me dizia, " Lucas, vamos devagar, deixa eu guio!". E eu discuti com ela, dizendo que estava bem o suficiente para dirigir.
Foi tudo muito rápido, só vi um caminhão, e uma luz. Tudo se apagou.
Acordei com barulho de sirenes e gritaria. Olhei do meu lado, Ágata estava presa nas ferragens, chorando, tremendo de frio, toda molhada pela chuva que caía naquela noite tão fria e horrenda.
Foi a pior cena que eu vi na minha vida. Ela tentou sorrir " Lucas, você está bem?"
Eu tentei levantar pra ajudá-la, mas foi inútil. Parecia que eu não tinha mais noção nenhuma do meu corpo, que eu nunca mais iria mover um dedo sequer.
Logo os bombeiros apareceram, tiraram Ágata com cuidado e agilidade. Foi quando um deles disse uma frase que me fez morrer por dentro.
" Vamos depressa, ela está perdendo muito sangue, acho que não vai aguentar até o hospital!"
Minha visão embaçou, eu sentia muita dor de cabeça. Desmaiei.
Acordei novamente no hospital. Minha mãe estava ao meu lado, rezando.
" Filho, você vai ser operado!" ela disse, tentando sorrir para me tranquilizar.
" Por que?"
" Você está com muito sangue coagulado na cabeça, eles precisam tirar."
" Onde está a Ágata?"
" Vamos rezar para que ela fique bem..."
Logo fui levado pra sala de cirurgia. Foi a última vez até hoje que estive de olhos abertos.
Durante a cirgurgia entrei em coma, acordei hoje, e já estamos em fevereiro.
Quando abri meus olhos, Ágata estava ao meu lado, rezando.
Ela chorava convulsivamente e agradecia a Deus! Eu não compreendia, achava que Ágata havia morrido no acidente, estava desolado.
Foram três dias de conversa com o psicologo pra assimilar tudo o que havia acontecido desde o acidente. Ágata foi submetida a uma transfusão de sangue, e duas cirurgias na perna direita. Felizmente não tinha nenhuma sequela do acidente.
O médico disse que eu voltaria a andar em um ano, e que tinha que agradecer a Deus por não ter ficado com sequelas mais graves.
Eu sei. E agradeço. Mas me culpo e me culparei até o fim dos meus dias, pois fiz minha família passar o Natal e o Ano Novo no hospital comigo. Fiz Ágata sofrer seis meses. Ela emagreceu quase dez quilos. E o pior, é que ela poderia ter morrido. Isso é o que mais me dói. Eu cheguei a pensar que nunca mais veria Ágata, que eu passaria o resto dos meus dias numa cadeira de rodas me culpando por ter acabado com a vida da única mulher que me amou a vida toda.
Nessa eu percebi que a vida é muito frágil pra que a gente abuse dela como bem entender. A vida é um cristal muito fino e delicado, e se a gente vacilar ele se quebra. Hoje eu olho bem dentro dos olhos azuis de Ágata e sinto uma imensa vontade de chorar. Chorar de alegria, de tê-la aqui comigo, de saber que assim que eu voltar a andar a gente vai se casar, vai constituir uma família linda e sólida.
Eu aprendi, hoje eu sei como a vida é maravilhosa e agradeço a Deus por ter me dado essa segunda chance!
Porque se não fosse Ele, hoje eu nem estaria aqui.
Espero que vocês aprendam com a minha história e aí vai uma frase clichê, mas um clichê que pode salvar vidas : SE BEBER, NÃO DIRIJA!

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